sábado, 7 de março de 2009

Ode ao pôr do sol.



Onde você está nesse dia que se esvai?

O céu amarela, avermelha e escurece, meu peito clareia, avermelha e amanhece.
Se fosse verdade gritarias, contra tudo e contra todos, mas prefere calar, e o silêncio ensurdece e ri na minha cara.

Talvez silenciar seja responder a melhor das respostas para quem sabe que no fundo, em alguma esquina do coração está a resposta de todas as perguntas.

E meus sentimentos maltrapilhos já nem sei por onde andam.

Quem nos libertará? Quem irá nos defender de nós mesmos?

Vôo em pensamentos sentado do meu quarto, imagino o mundo, sobrevôo os lugares por onde andei, lembro de nada, vejo tudo, carrego em mim um pedaço do mundo que eu nunca vou mudar, e sei que vou morrer tentando...

Vejo os trôpegos no bar e nas igrejas, todos procurando, todos sentados contemplando a estupidez das ideologias que valem nada, as crianças nas ruas, “nesses dias desleais” já recolheram os risos, e sobra a ruína de tudo que construímos.

Nessa cidade em que as tevês ao longe brilham mais que as estrelas, enchem os olhos deles mas esvaziam tudo que eu possa querer.

Será que estás no apagar as luzes da própria consciência?

E do que adianta? Se não sei onde Você está nesse dia que se foi...

Torpor



A luz laranjada do cigarro que iluminava as redondezas dos seus dedos era toda a clareza de vida que ele conseguia ver. Ele passara tanto tempo perdido no escuro de si mesmo, que a fumaça que fazia mal aos pulmões fazia bem a alma.

A fumaça era a mais concreta das poesias, em que o eu lírico se desfazia, se dissipava e preenchia o vazio daquela noite.

Ele era a noite, ele era à noite, e a eminente manhã já não o assustava, acostumado que era a consumir-se em troca de um punhado de luz, como uma vela triste valsando a melodia da solidão.

O cigarro, já cinza, e o impiedoso amanhecer, o abortava para a estúpida realidade de ser, quando tudo que se queria era o ser concreto, como a luz, e efêmero, como a alma.