quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Perca.... Percamos.... Percais....





Um belo dia,

Sumi.

Desliguei-me de mundo,

Esvaí-me com o vento.

Desconstruí.

Fui tão longe,

Ao tão ermo,

E profundo,

Que nunca mais voltei.


Sobraram meu corpo,

Minhas idéias,

E todas as coisas vãs.


Às vezes me encontro,

De dentro pra fora.

E ao olhar,

Vejo,

Percebo,

Que dessa viajem,

Não há mais volta.


Fiquem com suas vaidades,

Seus cargos,

Tesouros,

Status.



Antes perdido se achar,

Que achando - se perder...




“Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.”

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Trivialidades



Ele deitou exausto para o lado, olhar fixo no teto e respiração ofegante.

Dizem que os segundos que seguem ao orgasmo são os únicos nos quais se escuta a completa verdade de um homem, e ele ali, introspectivo, balbuciava mentalmente a canção que tocava ao fundo, sentindo um quase torpor de consciência tamanho prazer.

E, no quase silêncio, urge o iminente convite a fala.

Quisera então ser poeta...

Citaria Caetano, “fonte de mel, olhos de gueixa”, mas lembrou de Bagno, e desistiu.
Talvez então Gullar, “um instante sem começo nem fim” cabia quase perfeitamente, mas queria algo mais plural.

Vinícius, sonetiando quase o convenceu a sonetiar fidelidade, mas nunca foi partidário de amor que se consome e vira cinzas.

Poesia era demais, só funcionaria se feita com a alma no instante exato do sentimento sentido, e solta verbalmente a se perder no tempo e nos lençóis úmidos.

Quisera então, ser cantor...

Cantaria Djavan, mas era ela que aparentemente levava a sério e ele já disfarçava a insensatez mental.

Quem sabe um samba antigo, onde reinasse a paz, mas... Samba é tristeza, e tristeza é senhora, afinal desde que o samba é samba é assim...

Tentou o jazz e o blues, de Nat King Cole à Billie Holiday, mas nada cabia, e num surto lembrou Tchaikóvski, que cabia perfeitamente em redondilhas, mas que jamais poderia ser cantado.

Lembrou dos autores, dos clássicos, das prosas e poesias, dos profetas e dos profanos.

Fez em sua cabeça associações livres Freudianas mas só havia impossibilidades verbais.

Buscou então, no fundo de si, um carinho, mas o tocar das peles era ainda pouco, queria tocar-lhe a alma.

Lembrou da conquista, das flores e das eroticidades ao pé do ouvido.

Concluiu então que todo esse romantismo pulsante devia-se a amada, aquele corpo de pele branca e nua, o qual desejava beijar-lhe o seio e acariciar o espírito.

Restava então uma única alternativa, a mais louvável delas, de um altruísmo quase inexplicável, e nesse ímpeto, virou-se, sedento de ouvir a voz da amada, de saber-lhe os desejos e quase como um lacaio do amor, deu-se a ela, e só havia uma forma possível que acalmar uma alma tão amante.

Queria saber imediatamente o que se passava naquele coração

E, com leve êxito, deixou de lado tudo, e suavemente falou:

- Foi.....
bom....
pra você?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A justiça nossa de cada dia...




- Êoêeeee

O grito que ecoava do outro lado da rua avisava que um carro de polícia descia a rua com as sirenes e luzes apagadas. Era uma prensa na certa, afinal roupas e pés sujos são a condição de flagrante, de pobreza flagrante, preconceito flagrante.

A dura era certa, inevitável, e ele só olha fixamente, o mesmo olhar que olha quando as senhoras e as meninas seguram a bolsa com mais força debaixo do braço quando passam do lado dele, no medo do roubo iminente. Mas dessa vez quem roubaria eram os agentes do estado, que em nome de nossa parca justiça que cobre os abastados e desnuda os miseráveis, em nome da “justiça” roubariam do moleque o que restava de dignidade.

Tapa na orelha, cassetete na boca do estomago, soco na costela e todas outras “medidas coercivas e defensivas” dos fardados armados até os dentes contra um adolescente sujo e de pé descalços.

A sociedade passava alheia aos fatos, com uma sensação boa de justiça sendo feita, de estado que funciona, de “tirem esses vagabundos daqui”.

Por incrível que pareça, isso eu até aceito,me conformo, afinal esses cidadãos modelo são os mestres na arte da hipocrisia, mas o que me meche com os bagos são os que falam que “esses vagabundos deveriam estudar e fazer algo da vida”. Meu irmão, é um playboy desses falar um pio que chego aos meus instintos mais boçais e imagino um cassetete desses, uma farda dessas para ver se ele seria homem o suficiente para encarar a prensa sem se urinar verborragicamente chamando o papai. Afinal hipocrisia e covardia rimam perfeitamente.

Mas não pense você que eu duvido da humanidade. Pelo contrario, eu acredito que cada um desses elementos na narrativa tem salvação, mas vendo a cena eu só pensava em ir preso, e deixar que aquele moleque tivesse minha vida. Vida fácil? Comparada com a dele, minha vida é uma maravilha, assim como a sarjeta comparada com a favela.

O fato é que o que ninguém percebia é que esse tribunal arbitrário de rua que acontece diuturnamente debaixo dos nossos olhos mostra como nos somos e é como tratamos os que não tem que mostramos quem somos, espalhados no outro mostramos a crueldade dos valores que nos permeiam. Valores morais uma pinóia, quem não se enquadra monetariamente leva prensa, valores financeiros e hipócritas.

E do que adianta esse texto? De nada.

Adiantaria se mudássemos de corpos nascendo de novo, déssemos a cara a tapa, a outra face e seguíssemos o que o mestre falou, mas olhando a sociedade pelo ângulo do ego, assistimos normalmente a chacina dos nossos direitos, o morte agonizante daquilo que chamamos de direito, de justiça... e pior, enterramos nosso futuro no porta-malas da viatura, e curiosos olhamos o velório da nossa única esperança, o futuro do país... que por entre a brecha da janela me olhou fixamente.

"A justiça é cega, mas a injustiça podemos ver"

Cega surda emuda, muda, imunda...

sábado, 7 de março de 2009

Ode ao pôr do sol.



Onde você está nesse dia que se esvai?

O céu amarela, avermelha e escurece, meu peito clareia, avermelha e amanhece.
Se fosse verdade gritarias, contra tudo e contra todos, mas prefere calar, e o silêncio ensurdece e ri na minha cara.

Talvez silenciar seja responder a melhor das respostas para quem sabe que no fundo, em alguma esquina do coração está a resposta de todas as perguntas.

E meus sentimentos maltrapilhos já nem sei por onde andam.

Quem nos libertará? Quem irá nos defender de nós mesmos?

Vôo em pensamentos sentado do meu quarto, imagino o mundo, sobrevôo os lugares por onde andei, lembro de nada, vejo tudo, carrego em mim um pedaço do mundo que eu nunca vou mudar, e sei que vou morrer tentando...

Vejo os trôpegos no bar e nas igrejas, todos procurando, todos sentados contemplando a estupidez das ideologias que valem nada, as crianças nas ruas, “nesses dias desleais” já recolheram os risos, e sobra a ruína de tudo que construímos.

Nessa cidade em que as tevês ao longe brilham mais que as estrelas, enchem os olhos deles mas esvaziam tudo que eu possa querer.

Será que estás no apagar as luzes da própria consciência?

E do que adianta? Se não sei onde Você está nesse dia que se foi...

Torpor



A luz laranjada do cigarro que iluminava as redondezas dos seus dedos era toda a clareza de vida que ele conseguia ver. Ele passara tanto tempo perdido no escuro de si mesmo, que a fumaça que fazia mal aos pulmões fazia bem a alma.

A fumaça era a mais concreta das poesias, em que o eu lírico se desfazia, se dissipava e preenchia o vazio daquela noite.

Ele era a noite, ele era à noite, e a eminente manhã já não o assustava, acostumado que era a consumir-se em troca de um punhado de luz, como uma vela triste valsando a melodia da solidão.

O cigarro, já cinza, e o impiedoso amanhecer, o abortava para a estúpida realidade de ser, quando tudo que se queria era o ser concreto, como a luz, e efêmero, como a alma.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Mercado



Já que resolvi falar....

Tudo começou no escambo, que não é um lugar com nome feio do tipo Curvelo, ou Euxenita, da nossa grande, e porque não dizer, criativa, Minas Gerais, mas uma prática de troca-troca. Literalmente.

Acontece que, como nunca nos contentamos com a prática de qualquer coisa sem burrocratizar, criamos o mercadinho, o mercado, o supermercado, o hipermercado e caminhamos rumo ao limite da nossa megalomania. Não tardará chegaremos ao megamercado, ao ultramercado, e quem sabe ao supramercado...

O fato é que se Marx cogitasse qual seria nossa atual relação com os mercados, o Capital seria um best-seller, elevado ao altíssimo nível Harryportíaco ou Caçadordepipástico, e definitivamente um dos benefícios seriam os mercados customizados, certamente teríamos o mercado masculino, uma seção reduzida a produtos básicos para churrasco, álcool e degustação com aquelas modelos que a gente lembra a cara, o cheiro e o nome, mas nunca, nunca mesmo lembramos o produto degustado.

E obviamente o mercado feminino, que eu não consigo cogitar aqui devido a minha incapacidade de encontrar um padrão no comportamento peculiar desse seguimento estrogênico da sociedade.

Mas antes que minhas fiéis leitoras me acusem vilmente de machismo inveterado eu me explico. O fato é que o dia a dia tem mostrado comportamentos distintos femininos na convivência em tais lugares. Por exemplo, visto que os corredores têm espaço limitado, os carrinhos deveriam ser cuidadosamente emparelhados às baias de frutas para que a circulação não fosse prejudicada, mas a capacidade feminina de manobras de veículos de 4 rodas nunca é possível de ser avaliada a não ser pela teoria do caos. É carrinho para todo lado!

Eu, como a maioria dos homes não consegue largar seu carrinho, o objeto se incorpora às mãos e só o largamos para experimentar algo com uma daquelas modelos, inclusive porque não queremos que elas vejam que estamos comprando danoninho e miojo. Só.

Em contrapartida peça para um homem comprar 2 maços de cebolinha e um de acelga, que ele vai olha, olhar e, não distinguindo tons de verde, ele vai lá provar algo com a modelo. Já as mulheres têm uma capacidade incrível de achar as coisas, principalmente no setor dos alimentos saudáveis. Além do mais, elas sempre sabem as propriedades inerentes a cada alimento. Certa feita eu estava procurando a tal da chicória e resolvi pedir ajuda a uma simpática senhorinha que contemplava os nabos:

- A senhora pode me ajudar? Eu não sei achar a chicória.
- Claro meu filho!

E num passe de mágica ela achou uma folha diferente em meio às outras, desvendando a tão temida folhagem.

- Aqui está meu filho, chicória é ótima, tem vitaminas A, B, C, antioxidantes e é ótima para câncer!

E eu já espantado como era possível haver tantas vitaminas numa folinha, respondi com uma pergunta retórica:

- Mesmo?

E a senhora:

- Mesmo, muito bom, eu sempre comi e nunca tive câncer!

***

Algo ainda mais intrigante são as técnicas milenares de escolher legumes e verduras.

- Uma batidinha com o dedo, se tiver um som oco, está bom!
- Você dobra a pontinha e se quebrar está ótimo, se dobrar mole, já venceu.
- Olha, você olha bem para ela, se estiver com a casca verde, uniforme e com uma aparência saudável, está boa.

Para tudo!!! Aparência saudável? Já era difícil saber como é um som oco, imagina apreciar a saúde de uma fruta?

Agora, o que mais me intriga nisso tudo são as uvas. Sim elas me intrigam muito mais que a relação número de caixas/funcionários, já que existem milhares de caixas e sempre há filas, e do incrível fato de que todos os mercados cobrem ofertas e eu nunca consegui comprar nada de graça, visto que cada oferta sendo coberta tenderia ao zero.

É que as uvas fazem com que se quebre uma regra básica que foi estabelecida nos primórdios aqui desse texto e na sociedade moderna: O mercado! Sim, pois teoricamente com o intuito de prová-las, estamos consumindo sem pagar! E o que fazer? Será que daí partirá a tão aguardada revolução? Estamos refletindo nas uvas nossa natureza altruísta e humana? Seria a capacidade gustativa feminina que nos levaria ao instinto mais básico de sobrevivência e começaríamos a re... re.... repartir?

Meus instintos socialistas já estavam se aguçando numa revolução feminina e alimentar quando entrei num desses megamercados e vi, além das placas usuais que controlam nosso comportamento, uma nova plaquinha, espalhada por todo o mercado, que frustrou todas as minhas idéias revolucionárias, dizendo em letras garrafais: PROIBIDO DEGUSTAR!

Já não bastasse perceber que lutar contra o sistema é algo inútil, percebi algo ainda mais profundo, quando vi uma dessas plaquinhas irônicas em frente aos produtos de limpeza. Nós humanos, nos sentindo tão evoluídos, e o nosso sistema ali, na nossa cara, rindo do nosso altruísmo e nos mandando lamber sabão!!!!

domingo, 11 de janeiro de 2009

Elevadores...




Num passado não tão distante, lá pelo ano de mil oitocentos e alguma coisa, um desses inventores desocupados resolveu inventar uma caixinha que transportasse pessoas verticalmente e deu inicio ao caos social em que vivemos hoje. Pode parecer exagero, mas a maneira que as pessoas se comportam nos elevadores é um retrato mais que fiel de como somos como sociedade. É sério!

Suponhamos uma inédita teoria de que dois corpos não possam ocupar o mesmo lugar no espaço, teoria essa deveras controversa em bailes funk e nas xeroxes da UnB, mas que se aplica na maioria dos lugares melhor freqüentados.

Teoria aceita, seria quase tautologia concluir que o fluxo de transposição dos limiares do equipamento deve respeitar a ordem de egresso a priori a de ingresso, ou para ser mais exato, tem que esperar quem está dentro sair para entrar. Mas não se enganem com vis constatações, essa lei não se aplica em casos de elevadores.

Por mais incrível que pareça, a movimentação humana nesses cubículos responde a uma seqüência muito mais imediatista e simbiótica, a do: “sai da frente que eu to passando” e os que estão lá dentro se acomodam, como sempre.

Assim, esse mutualismo coagido pela pressa inerente ao capitalismo mostra que os enclausurados elevatícios (referente a elevadores) se importam mais com os tique-taques dos relógios que com as leis da física moderna.

Devidamente acomodados, as incongruências continuam.

Afinal, em que outro lugar pessoas se enclausurariam espontaneamente num cubículo, dividindo seu metro quadrado com estranhos, em total silêncio e acomodados de forma a não cruzar olhares?

Essa é, sem sombra de dúvidas, a sociedade. Os corpos ali posicionados não passam de corpos, de volumes pesados até um máximo de 800 kg ou 9 passageiros, o que vier primeiro. Os nossos corpos já não têm vida e obedecemos à Eucracia, ao Umbilicalismo ou ao Estoupoucomefodendoismo. Obviamente há silêncio, pois não há interesses em comum, a não ser ascender ou descender e os olhares não se cruzam, pois ninguém mais olha para o outro.

Mas o fato mais intrigante é que sempre nota-se pressa para entrar e não necessariamente para sair. Chego a pensar que o elevador é uma espécie de entidade sobrenatural que incita nossos sentimentos mais animais, chegando ao ponto de ser necessária uma lei que nos instruísse a olhar se o elevador realmente está no andar, nos impedindo do ímpeto suicida de nos jogarmos no vão.

Ou talvez ainda, o MESMO seja uma sigla secreta do governo para Mecanismo Elavatício Social de Movimentação Ordenada, onde se realizam experimentos de condicionamento humano, com o intuito de mensurar a capacidade da sociedade de viver em clausura sub a fachada de escolha.

Mas, como não se podem provar tais teorias, fico a espera de um visionário que quebre convenção social desses cubículos, olhando para os outros passageiros, perguntando-lhes os nomes e fazendo amigos. Contudo, como alguém assim pode facilmente ser jogado no vão pelos outros, seria melhor um rebelde, que entrasse sutil e silenciosamente num elevador lotado, e lá entre os andares 28 e 29 realizasse o ato terrorista que nos levaria de volta aos nossos instintos primitivos de amor, quando apagando a luz, gritasse a plenos pulmões:

- Ninguém é de ninguém!

E assim se restabelecesse a ordem.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Jair.



Jair olhou pela janela da sala já sem muitas pretensões de vê-la passar. Havia horas que ela passara apressada, arrancando-lhe um suspiro profundo que chegava a doer parte do peito.

Será que um dia ela notaria? Quase todo dia aqueles passos apressados nutriam sua obsessão.

O nome dela começava com A. Devia ser Ana, Aline... Não, era Ana. Ela tinha cara de Ana! E aquele andar... ai aquele andar. Era Ana.

Um dia quase teve coragem de descer, cruzar o caminho e perguntar as horas. Ia ter que fazer cara de apressado, afinal quem faz esse tipo de pergunta logo de manha? Não, não, isso já era demais.

Restava então imaginar. A idade, os gostos, o cheiro...

Será que ela sempre tinha pressa? Será que essa pressa toda era para encontrar alguém? E agora? E agora meu Deus? Não pode ser... Claro, como eu sou burro! Uma mulher dessas deve ser disputada.... ahhh mas se ela fosse minha.

Vou ficar aqui! Até ela passar, até ela me ver!

Mas se ela me ver? Ela vai gostar? Porque gostaria?

Acendeu um cigarro e seu coração esmoreceu. O desânimo da realidade o emputeceu!

Quer saber? Dane-se essa merda! Não adianta, a vida não é como nos livros! Vou voltar a escrever...



E ela já sem pressa passou e olhou para a janela vazia...

Impressões do Urbano



Da janela as pipas cortam o céu nublado e o vento assopra a poeira e as ilusões da minha juventude. As ruas dessa cidade se entranham por entre bairros, rodovias e quebradas, me levam por esquinas pintadas por indigentes, empresários, mendigos...

As janelas semi abertas do veículo deixam permear a realidade que queremos esquecer. Um baculejo é parte da rotina, um banho na fonte é sair da rotina.

Na esquina a fumaça do baseado embaça o horizonte e leva com ela as mágoas do moleque e a hipocrisia da sociedade.

Os sons se misturam aos cheiros, a mente viaja em paredes de tijolo cru, pichações em meio a propagandas e assim caminho por caminhos que só a vista alcança.

No bar um pai descuidado não vê o molequinho tentar fumar um cigarro. Num bar um pai descuidado não se vê consumido em fumaça.

Em meio ao caos há ordem, em meio à ordem o caos.

Milhares de balões de algum político passam ao fundo por entre os prédios. Passam despercebidos por quem labuta sem tempo de olhar para o alto.

Vive-se o inverso da vida, onde as árvores cavam seu lugar no concreto e a água mina de um cano estourado, esquecido, imune.

Alheio a tudo, cai uma pipa, presa no alto da única arvore que se vê, como se no fundo no fundo a natureza só quisesse brincar de pipa, como a me lembrar eternamente das ilusões da minha juventude.