sexta-feira, 14 de novembro de 2008

1% das coisas



Algumas poucas pessoas têm esperança...

Algumas menos ainda têm o dom da força de vontade.

E quando você tem pessoas que põem isso em prática algo de extraordinário acontece. Algo que a gente sente no ar numa quarta feira chuvosa e inexplicavelmente enche seus pulmões de uma vontade de mudar, fazer algo, qualquer coisa que seja.

É tão fácil combater a pobreza, tão simples, que não adianta me preocupar com isso, que por mais simples que seja não será resolvida.

E se um dia eu for o pobre, quero ter o dom da força de vontade, e esperança, porque se essas morrerem do que vale a vida?

Mas independente do que digam os céticos, os cínicos e os descrentes, eu vou continuar enchendo meus pulmões, ignorando as políticas, as ideologias, as certezas e todas as mentes analíticas e pouco práticas, que fazem nada.

«Saber que será má a obra que se não fará nunca.
Pior, porém, será a que nunca se fizer.
Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe (...)»

Não os escutarei, encherei meus pulmões e continuarei assim, até que se esvaia de mim, se perca no tempo, e mesmo que não dê em nada, ao menos não escutei os que de tão mais certos do que eu nem ao menos tentaram.

“Não preciso que me digam, de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração...”




Mas eles nunca, nunca vão sentir o que eu senti.




... ... ... ... ...

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA há no País 56,9 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza e 24,7 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza.

Acabar com a pobreza em país rico com grande proporção de pobres requer recursos financeiros irrisórios.

Para se erradicar a extrema pobreza brasileira seria necessário não mais que 1% da renda do País.

Para se erradicar a pobreza seriam precisos 5%.

Nosso país é um dos primeiros do mundo em desigualdade social. Aqui, 1% dos mais ricos se apropria do mesmo valor que os 50% mais pobres. A renda de uma pessoa rica é 25 a 30 vezes maior que a de uma pessoa pobre.

A pobreza existe quando um segmento da população é incapaz de gerar renda suficiente para ter acesso sustentável aos recursos básicos que garantam uma qualidade de vida digna.

Estes recursos são água, saúde, educação, alimentação, moradia, renda e cidadania.





Pobreza maior é a de espírito.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Uma leve descrença com as coisas...



Quem tem o poder de mudar qualquer coisa nessa vida?

Na verdade somos todos egoístas por natureza e talvez o altruísmo seja o próprio egoísmo disfarçado em pele caridosa e com uma verossimilhança de não-amor-a-sí que me assusta.

Por isso eu digo: quem pode mudar coisa sequer nesse mundo?

Tudo pode ser sempre visto por dois ângulos e agente escolhe aquele que cai melhor na hora, seja pura maquilagem para quem quer que seja, nós mesmos, a sociedade, a alma...

Se parássemos pra ver o mundo pelo ângulo simples e cru da realidade, seriamos animais racionais boçais e instintivos.

Já o sentimento nos atrapalha de ver a vida e serve de proteção entre o mundo real e o falho e infindo mundo que criamos a nós mesmos.

E por isso sentimos, para haver uma simples barreira entre nosso mundo e o dos outros.

A felicidade é tão relativa e efêmera quanto a tristeza, ambas coexistem num mundo irreal tão bem disfarçado de coisa que chegamos a achar que sentimos coisa sequer.

Quem pode mudar qualquer coisa nessa vida?

Acreditar talvez seja a unica coisa que explique a burrice do ser dito humano diferenciada da burrice sagaz do animal que satisfaz o instinto carnal e dos sentimentos sem barreiras que vem e vão sem culpa.

O ser humano é não ser em nada.

Ser algo? Eu não sou, nem nada eu sou, sou o não nada.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Gravidez ou Gravidade?



Mulheres engravidam e ponto. Por mais que de certa forma minha mente rejeite a idéia de que um ser tão incrível possa sair de outro igualmente incrível, tenho que aceitar o fato. Enfim, temos todos que aceitar o fato, mesmo que o feto seja um milagre vagamente racionalizado. No mínimo pensa-se que o sexo leva aos fetos, assim como o amor leva aos filhos, dependendo da situação em questão.

Já os filhos, coitados, além de passarem nove meses, ou 40 semanas como dizem alguns “parteiros”, na eterna ilusão de que a vida se resume a uma piscina onde não temos que nos preocupar com o ar que respiramos e a comida vêm direto por um tubinho estrategicamente posicionado no lugar onde hoje se encontram nossos umbigos, os filhos tem em si a responsabilidade e a culpa por um emaranhado de situações extra-uterinas. Aqui nesse universo paralelo onde nós, os ex bebes vivemos e nos relacionamos.

Enfim, nesse universo extra-uterino, onde alguns de nós usam com orgulho nossos resquícios de tubo alimentar como porta penduricalhos, as gestantes e as grávidas têm direitos que alguns de nos mortais não possuem. Mas vá lá, tudo bem, não vou discutir as relações de direito em respeito aos meus poucos leitores que a pesar de poucos, são muito críticos graças a Deus, e os mesmos me crucificariam gentilmente falando que não concordam com “algumas coisas”. Contudo, quando se está grávida algumas coisas que geralmente são repudiadas no dia a dia tornam-se normais e até apreciadas com certo carinho por nossa parte, como o estranho desejo de comer as mais estranhas coisas do universo, as freqüentes idas ao banheiro e a incrível permeabilidade para se furar filas nos lugares públicos.

Junto com aqueles que são ex bebês a mais de 60 anos, com os portadores de necessidades especiais e com aqueles ou aquelas que carregam crianças de colo, as grávidas tem o direito de furar fila sem serem discriminadas. Lei tal, de tal ano diz em algum lugar do livro tal que elas têm esse direito. Nunca tive nem lombrigas pra saber como é ter um ser dentro de mim, ainda mais pra questionar o direito fura-fila.

Mas o que me faz pensar mesmo é até onde a gravidez esconde a gravidade da situação em que vivemos. Imagine a cena:

Estando eu numa fila, num belo dia do domingo a beira da praia, quando uma jovem senhora se posicionou estrategicamente a minha frente, com uma expressão de quem tem todo o direito fura-fila do mundo, mesmo não me parecendo idosa o suficiente, grávida o suficiente e muito menos educada o suficiente. Quase que automaticamente me posicionei, calmamente, ao lado dela, delicadamente esperando a explicação pra tal atitude, enquanto ela tentava me ignorar junto com os outros mortais freqüentadores de filas. Outra jovem senhora se aproximou, carregando uma barriga enorme. Foi quando a senhorita elaborou a celebre frase que não poderia ser citada em hora mais oportuna:

- Esse povo reclama, mas se deu no exame ontem que eu estou grávida eu não preciso provar.

É realmente incrível como uma pessoa com tal intelecto foi selecionada pela natureza pra ser mãe. Devia no mínimo ganhar da mãe natureza o troféu "mãelandragem do ano". Tudo bem que por algum motivo as grávidas podem furar fila, talvez por não agüentar ficar tanto tempo esperando sem ir ao banheiro ou algo assim, mas quantas semanas seriam necessárias para que isso ocorresse? É como se logo após um coito as mulheres se tornassem seres portadores de necessidades especialíssimas (exclua-se aqui a de receber telefonemas, que é justificável), sem sequer terem necessidade alguma! A necessidade talvez fosse só ganhar alguns minutos na fila do caixa.

Dizem que as tonteiras da gravidez aparecem após algumas semanas, mas a “tonteza” que leva a gravidade dos fatos em que vivem só aparece em situações como essas.

O direito é inegável, mas o fazer valer para si é prova de que no mundo dos espertos, até as grávidas valem por dois. E assim agente vai vivendo, valendo-se de direitos justos por definição, mas burros pela lógica do bem comum.

- Vá minha senhora, e parabéns pelo bebê!

Algumas risadas, e ela, no segundo que esboçaria uma reação escutou, ao fundo, a voz salvadora, livrando-a da platéia que já então a sabatinava com olhares.

-Próximo!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Prolixidades alimentares



Diz a lenda que em lugares diferentes do Brasil as coisas têm nomes diferentes daqui da capital, e isso rende assuntos intermináveis. Essa história é baseada numa conversa produtiva de MSN que versa sobre teorias léxico-alimentares, a fome mundial e classificações taxonômicas, entre outras.

Os nomes foram mudados para a segurança dos personagens:



Gabbriel: Por falar em comida, aqui agente chama biscoito e bolacha coisas diferentes.

Zé Gotinha: O que é bolacha ai? E biscoito é o que?

Gabbriel: Bem, sabe essas de leite? São bolachas. Ou biscoitos, só que essas deliberadamente doces são biscoito.

Zé Gotinha: Não entendi. Assim me parecem iguais ainda! Doces.

Gabbriel: Olha, vou te explicar.

Zé Gotinha: Explique-se

Gabbriel: Na verdade o mérito não está no sabor, mas na serventia. Bolacha serve pra ocasiões especificas e biscoito é geral. Ou seja, toda bolacha é biscoito, mas nem todo biscoito é bolacha.

Zé Gotinha: ah! Chamo tudo de bolacha mesmo.

Gabbriel: Tudo bem, só estou te falando como as coisas são.

Zé Gotinha: Até tapa na cara! Bolacha!

Gabbriel: Sim, sim. Mas veja você que tapa na cara definitivamente não é biscoito. E ainda, você nunca vai “molhar a bolacha” no sentido figurado.

Zé Gotinha: Tomara... Isso me causa arrepios!

Gabbriel: Na verdade, existem coisas que tem classificações específicas, por exemplo, já viu esses cookies?

Zé Gotinha: Não.

Gabbriel: Bem, como posso explicar... É um biscoito que está mais para bolinho.

Zé Gotinha: Ah ta.

Gabbriel: Mas não tem o status de bolinho porque é duro. Afinal, não pode existir biscoito mole. A não ser que sejam previamente molhados no leite, mais isso é outra história.

Zé Gotinha: Ah não... Para mim vai ser bolinho, que seja duro.

Gabbriel: Enfim, no mundo dos biscoitos, cada um tem seu lugar, até aqueles ridículos biscoitos que vem de 3 em 3 por pacote. Que nem deveriam ser considerados biscoitos! Deveria haver uma categoria mais abaixo!

Zé Gotinha: São bolachinhas.

Gabbriel: Que sejam, mas independente da classificação, não deveriam criar expectativa quando alguém nos oferecesse! Com toda a fome no mundo, alguém fabrica algo assim. Imagina:

– Quer um biscoito?
– Quero sim

Dai aparece um trio quase imperceptível.
E eu me pergunto:

– E o resto?
– Mas que resto, só tem esses!
– Mas você não disse que tinha biscoito, eu quero o resto!
– Ta bom! Se você quer o resto eu como 2 e deixo 1 pra você!
– Isso já é demais!
– Vai querer ou não?

Gabbriel: Imagina! É de perder a fome!

Zé Gotinha: Gabbriel... Você deve ter algum trauma... Com esses biscoitinhos viu.

...

domingo, 2 de novembro de 2008

Tudo é lixo / Panis et circenses. By Mariana Delfino

Esses textos não são meus, quem me dera, mas a identificação é imensa! A autora gentilmente me deixou publicar e eu só contribui com as fotos.



Tudo isso é lixo.





Tudo isso é lixo. A perda da dignidade com os lábios cerrados e o sangue pulsando latente. Dignidade feita do pó miserável que cai dos sapatos, construída apoiada na mediocridade alheia. Corações miseráveis que não se recordam do tempo de sua inocência, quando a manipulação soberana e suja não lhes afetava a alma, pois desconheciam essa forma de poder.

Intervir de maneira histérica é o que desejamos, porém, a correnteza é tão forte e escura que arrasta a todos, cegando a quem tenta ajudar.

O medo da dor misturado ao desejo ardente de justiça paralisa as mentes que mencionam a revolução. Atrelados às suas cadeiras de rodas de formato cíclico como a vida inóspita logo depois do último amanhecer, os seres que se chamam homens morrem lentamente, receosos de seu próprio saber, mantendo nas mãos gélidas a taça cheia da coragem forjada que um dia esperavam praticar.


Panis et circenses.





Preto, pardo, branco, gente que parece encardida. A pequena rua imita a vila, a vila copia a cidade, a cidade aproveita as idéias do estado, o estado aprende direitinho as lições do país. E essas pessoas esquecidas pensam que estão se beneficiando, que podem continuar aproveitando a música e a comida.

Venham, é de graça! Custa apenas a sua dignidade.

Interesses.

Na classe D, na classe C, na classe B, na sua classe, no seu dinheiro, na sua felicidade. Fidelidade. Quinze "conto" por criança. Compram seu respeito e vocês nem percebem. Crianças descalças, imundas, sorrindo à rendição. Enquanto isso as ações se valorizam, afinal, esse é o objetivo, ou não? A busca incessante pela sua consciência, a disputa pelo seu salário, a ganância pelo seu sorriso. Servem para que, senão enriquecer o bolso deles? A educação dos seus filhos consumida como o seu respeito.
Igualdade, eles pregam. Venham, abaixem-se até este submundo, teremos então sua tão sonhada igualdade.

Do outro lado da cidade crianças pretas, pardas, brancas e encardidas se divertem com as aulas de boas maneiras. Aulas de maneiras boas. Estão aprendendo a dividir, darão festa e comida aos pobres. Aos mesmos pobres que elegerão os pais delas um dia. Educação. Ler e escrever, pensam. Mas a infeliz realidade é que o povo não sabe pensar. Deveria haver uma escola que ensinasse a pensar, a entender que toda essa lambança não é de graça. Querem te comprar, e você se vende. A culpa? Alguns dizem que é do sistema, mas quem é mesmo que faz o sistema? Há escolha? Quando abaixarem as cortinas e revelarem-se os atores, conheceremos quem são os verdadeiros palhaços.

sábado, 1 de novembro de 2008

Baseado em fatos Surreais.


Em algum lugar dentro de cada uma das pessoas que eu nunca conheci há um sentimento em standby, esperando pelo momento certo de explodir e virar nossas cabeças. Coisa típica que não acontece todo dia, e para falar a verdade, acontece quase nunca, beirando a inexistência paradoxal desse tipo de sensação.

Talvez a gente vá vivendo, baseando nossa vida em fatos reais, baseando em baseados e bebidas, sons de músicas, trabalhos e estudos, família, cachorro, problemas e amores físicos, reais e até platonicamente nos surpreendendo com nossas próprias reações, como que querendo sempre estar em outra realidade, com outros amores, outra vida e outros problemas.

Mas um dia, quando você menos espera, ele aparece, vira sua cabeça, te tira do eixo, e te coloca num limbo emocional e físico, não se dorme, nem sequer se pensa direito, sente-se uma coisa que fica acima do amor, ao lado da paixão, de frente para o desejo e de costas para a realidade. No fim, só o que se sente é o sentimento sem sentidos, sem explicações, só fatos, tanta sinceridade descomedida e esperas, e loucuras, e entrega, e desejo e uma alegria alucinada, intensa e surreal.

Quando se baseia a vida em fatos reais, os fatos surreais vêem como um grande imã, atraindo sem volta nossa normalidade e no fim das contas, não se sabe mais onde se está, nem para onde se vai, agente vive muito mais que sobrevive até que um dia a realidade teima em voltar...

E com ela vem o medo, os padrões, a rotina e todas as explicações de uma vida real, de amores mal feitos, de sinceridades comedidas, de mesas de bar, mesas de estudo, mesas de escritório... E sai-se de um limbo para voltar para outro ainda mais esguio e estranho, a gente deixa de sentir e pensa, objetivamente, conscientemente, há até quem diga que racionalmente...Só fica na boca um gosto inconfundível de bubbaloo.

Mas, em algum lugar dentro de cada uma das pessoas que eu já conheci ainda haverá um sentimento em standby, esperando pelo momento de surgir, virar nossa cabeça e tirar-nos do eixo, e relembrar de como um dia, por alguns instantes que parecem eternos baseamos nossas vidas em fatos surreais. Surreais!.

Despretensão



Quem foi que disse?
Que passividade infundada é meramente burrice?
De que serve tudo?
De que serve tudo então?

“Onde se queimam livros no final queimar-se-ão pessoas”.
Se hoje ao menos houvesse fogo.
E se o fogo nos consumisse e nossas cinzas voassem.
Ao menos haveria vôo.

“Um galo sozinho não tece a manhã”.
Não fosse ao barulho dos ouvidos a surdez da alma.
E se pudéssemos com ela ouvir.
Talvez des-crepúsculo-la-na-ría-mos.

O que resta?
O que me resta então?
Eu que sou apenas cinza.
Des-crepúsculo minha alma na imensidão.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sobre pessoas e paredes...




Algumas coisas na vida definitivamente não deveriam existir, essas, porém, são por demais controversas. Até mesmo ódio tem seu lugar, pois mesmo em oposição ao amor, há um lugar de balanço reservado. Mas não são dessas coisas que eu quero falar, mas sim daquelas que deveriam existir e nem sequer são lembradas.

Deveria ser possível, por exemplo, sumir de vez em quando, para um lugar onde ninguém mais existisse e pudéssemos sentir saudade, sem dor, daquelas pessoas que sem maiores razões nos causam alegria só ao contemplar seus mais simples atos; esse lugar isolado, onde se pudesse sentir tudo livremente, o amor, o ódio e o medo cotidiano.

Deveria também existir um meio de transporte rápido o bastante para que pudéssemos ir visitar aquelas pessoas que vão embora e levam consigo algumas partes de nós, e, no entanto, ser sensato o bastante pra saber a hora de partir, antes que as obrigações sociais começassem, e pudéssemos sentir apenas o que deveríamos sentir.

Deveria ainda existir uma imensa parede, onde pudéssemos todos rabiscar nossas opiniões, e depois, observar toda ela e perceber o quão pequenas são nossas opiniões ideológicas, se comparadas com a imensidão e a fragilidade de todas elas através do tempo.

Seria ainda ideal se existisse uma escada, alta o bastante para que pudéssemos subir até acima desse muro, e estreita o bastante para que só se pudesse estar só ao contemplar o tamanho da sombra que esse muro faz do outro lado.

Por fim, deveria existir a possibilidade sermos fortes o bastante para destruir muros, velozes e sensatos na mesma medida, abertos e inocentes e com total liberdade de dizer o que realmente sentimos, sem machucar ou magoar...

Mas se todos esses nunca existirem, ainda sim deveria haver um lugar secreto, a gente pudesse ser o melhor que podemos ser...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

“A mentira nossa de cada dia.”



Hoje fui a uma livraria, uma dessas modernas onde só de olhar as capas já nos sentimos impelidos a comprar, organizada começando pelos mais vendidos e terminando em algo como livros técnicos ou algo assim, que sempre ficam no fundo, empoeirados. No fim das contas, me vi cercado de pessoas olhando essas novas capas, com olhar critico de intelectuais, mas com os olhos de criança olhando a loja de doces, brilhantes capas, mas sem sequer desdobrar as orelhas e ver do que se tratava... As livrarias modernas, não que eu saiba como eram as antigas, fazem seu papel perfeito de dar-nos a impressão de que somos intelectuais, cultos e até mesmo leitores, imagine só!

Não que eu seja um grande leitor, mas confesso que acho mais interessante esperar o dentista me chamar folheando o jornal da semana passada do que olhar uma dessas revistas de figurinhas para adultos, que tem figuras de gentes famosas da TV, suas casas, seus cachorros, papagaios e suas mentiras. Se ao menos tivessem algum texto.... Daí, fico a pensar que as livrarias fazem parte do cenário em que vivemos nossas mentiras diplomáticas do dia a dia.

Um dia eu imagino a cena de ver um de meus colegas de faculdade admitir que ler é um saco às vezes e muito melhor é ver a novela (das 10, ou das oito, não sei ao certo) que é um livro falado, a final de contas, o próprio nome já diz: Páginas da Vida.... Ler é bonitinho, e faz parte dizer que lemos de vez em quando, mesmo que não tenhamos mais que o guia da TV como prova...

O que lemos deveria ser segredo, e se alguém descobrisse que lemos livros por prazer, mesmo sem capas legais, deveríamos ser julgados por estarmos contra a ordem e a moral social... Afinal, dizer que lemos é socialmente necessário, já ler de verdade é um absurdo, algo deveras inútil, além de nos deixar desinformados sobre o último capítulo do best-seller nacional que recebemos de graça pela TV.

Impressionante como consegui viver bons minutos de uma mentira tão real que quase acreditei. Eu até compraria um livro, mas ao olhar minha carteira e lembrar que só tinha o suficiente pra garantir meu almoço no bandejão, resolvi deixar pra lá minha revolução pessoal, afinal, teoricamente, estudar numa faculdade pública e não pagar mensalidade deveria ser fator de ter a grana da mensalidade, mas a lógica é diferente, e a verdade é que quem gasta mais acaba com mais dinheiro no final do mês para poder comprar os livros...

Como no caixa não aceitavam teorias malucas sobre eu realmente ler, só dinheiro eletrônico, pois o dinheiro real é mesmo uma mentira, não existe mesmo, resolvi ir embora... Saí desiludido e fui até o meu carro, que na verdade não é meu, nem dos meus pais, mas sim do banco, onde guardam o dinheiro que não existe...
Incrível mesmo essas coisas da vida, o vigia não assalariado do estacionamento público não estava por perto. Pensei comigo, seria fácil roubar um carro assim, o vigia some.... mas quando eu tentei sair sem ser notado, ele me olhou de longe me chamou:
- Olha ai patrão, vigiadinho.
- Puxa cara, só tenho a grana do almoço de amanha...
- Qualquer ajuda ta bom.
- Fica pra próxima, não tenho grana nem pra comprar um livro...
- Ta tudo bom, vai com Deus.... E o diabo que te carregue sussurrou...
E lá fui eu, com cara de mentiroso. Nem vou te falar que eu dou dinheiro pra essas pessoas, porque ninguém vai acreditar mesmo. Fui pra casa com meu carro desvigiado, sendo observado por meu suposto empregado que insiste em me chamar de patrão, e de filho da p. quando eu viro as costas, indo com Deus, mas com o Diabo me carregando como ele queria...

Daí cheguei a casa e falei pra minha mãe que ia ler um liv... ou melhor, assistir TV, afinal, chega de mentiras por hoje.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Antes que eu me esqueça...


“O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.”

Talvez seja apenas mais um de meus devaneios, mas algumas coisas precisam ser ditas, antes que explodam dentro de mim. Vejo nossas vidas (sim, a sua e principalmente a minha) envoltas em tanta banalidade que acabo por sufocar em meio à tamanha falta de capacidade humana de reagir à própria natureza. Nas ruas, as ideologias das gerações de nossos pais andam mendigando quem as compre, e por mais maltrapilhas que sejam ainda nos olham com um desprezo de quase deboche, como quem repete um mantra. Os jovens, nós, a geração de 80 somos a geração perdida, simplesmente porque não usamos cabelos black power, nem lutamos contra a ditadura, nem escutamos Rock N’ Roll, nem falamos palavrões apenas para mostrar nossa capacidade, e, sobretudo porque não temos o remorso que eles tinham ao perceber que: “Apesar de terem feito tudo, tudo o que fizeram, ainda são os mesmos e vivem como nossos avós”.

Talvez seja mais fácil ler uma dessas revistas japonesas em quadrinhos que ler revistas de gente grande, que cheiram a sangue e tentam nos convencer a tomar essa vitamina indigesta de criticas covardes ao governo, pois nem eles nem nós nem ninguém faz nada para mudar, adoçada com a propaganda daquilo que possivelmente não precisamos nem podemos ter, mas que vamos acabar comprando um dia. Responda-me então, contra o que deveríamos lutar? Contra o bombardeio diário de sangue e lágrimas, se só o que nos permitem sentir é o gosto salgado do suor que escorre de nossa fronte, quando nos curvamos envergonhados e curiosos para ter uma vista melhor de algo que aconteceu do lado de fora do ônibus lotado, numa caçada, onde os moleques filhos de nossa sociedade nascem e morrem sem serem notados como gente, a não ser quando roubam, para que possamos julgá-los e projetar toda nossa covardia, ou quando morrem, para que possamos lembrar-nos de quão doce nosso suor é. De fato, esse é o reality show que tentam apagar de nossas memórias, com os Big Brothers, as novelas e propagandas. A alma do negócio é quem cega nossa alma e emudece-nos o pensar.

O que nos falta talvez seja a capacidade de entender que a indiferença é o contrário do amor e do ódio, sem, contudo, ser um meio termo entre eles. Não vou repetir erros de um passado longínquo, nem mesmo conclamar minha geração a uma revolução, a não ser uma revolução pessoal, intima e consciente. Uma possível não-revolução, sem, contudo ser reacionária... E por mais que um dia em minha velhice eu me conforme em ser um cidadão modelo, lendo jornal, sendo intelectual e pensador político, pretendo enquanto me restarem forças lutar comigo mesmo contra todas as revoluções que não venham de dentro, a contra-revolução, no sentido inverso da palavra. Para que um dia eu também, finalmente, entenda o sentido dessa frase.

A hora da onça beber água...


Eu relutei, juro! Mas “sigo o destino que me é imposto” e que venha o que vier...

Maldita onça!

Sinto informar que: Tá tudo mal.