segunda-feira, 18 de maio de 2009

Trivialidades



Ele deitou exausto para o lado, olhar fixo no teto e respiração ofegante.

Dizem que os segundos que seguem ao orgasmo são os únicos nos quais se escuta a completa verdade de um homem, e ele ali, introspectivo, balbuciava mentalmente a canção que tocava ao fundo, sentindo um quase torpor de consciência tamanho prazer.

E, no quase silêncio, urge o iminente convite a fala.

Quisera então ser poeta...

Citaria Caetano, “fonte de mel, olhos de gueixa”, mas lembrou de Bagno, e desistiu.
Talvez então Gullar, “um instante sem começo nem fim” cabia quase perfeitamente, mas queria algo mais plural.

Vinícius, sonetiando quase o convenceu a sonetiar fidelidade, mas nunca foi partidário de amor que se consome e vira cinzas.

Poesia era demais, só funcionaria se feita com a alma no instante exato do sentimento sentido, e solta verbalmente a se perder no tempo e nos lençóis úmidos.

Quisera então, ser cantor...

Cantaria Djavan, mas era ela que aparentemente levava a sério e ele já disfarçava a insensatez mental.

Quem sabe um samba antigo, onde reinasse a paz, mas... Samba é tristeza, e tristeza é senhora, afinal desde que o samba é samba é assim...

Tentou o jazz e o blues, de Nat King Cole à Billie Holiday, mas nada cabia, e num surto lembrou Tchaikóvski, que cabia perfeitamente em redondilhas, mas que jamais poderia ser cantado.

Lembrou dos autores, dos clássicos, das prosas e poesias, dos profetas e dos profanos.

Fez em sua cabeça associações livres Freudianas mas só havia impossibilidades verbais.

Buscou então, no fundo de si, um carinho, mas o tocar das peles era ainda pouco, queria tocar-lhe a alma.

Lembrou da conquista, das flores e das eroticidades ao pé do ouvido.

Concluiu então que todo esse romantismo pulsante devia-se a amada, aquele corpo de pele branca e nua, o qual desejava beijar-lhe o seio e acariciar o espírito.

Restava então uma única alternativa, a mais louvável delas, de um altruísmo quase inexplicável, e nesse ímpeto, virou-se, sedento de ouvir a voz da amada, de saber-lhe os desejos e quase como um lacaio do amor, deu-se a ela, e só havia uma forma possível que acalmar uma alma tão amante.

Queria saber imediatamente o que se passava naquele coração

E, com leve êxito, deixou de lado tudo, e suavemente falou:

- Foi.....
bom....
pra você?