quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sobre pessoas e paredes...




Algumas coisas na vida definitivamente não deveriam existir, essas, porém, são por demais controversas. Até mesmo ódio tem seu lugar, pois mesmo em oposição ao amor, há um lugar de balanço reservado. Mas não são dessas coisas que eu quero falar, mas sim daquelas que deveriam existir e nem sequer são lembradas.

Deveria ser possível, por exemplo, sumir de vez em quando, para um lugar onde ninguém mais existisse e pudéssemos sentir saudade, sem dor, daquelas pessoas que sem maiores razões nos causam alegria só ao contemplar seus mais simples atos; esse lugar isolado, onde se pudesse sentir tudo livremente, o amor, o ódio e o medo cotidiano.

Deveria também existir um meio de transporte rápido o bastante para que pudéssemos ir visitar aquelas pessoas que vão embora e levam consigo algumas partes de nós, e, no entanto, ser sensato o bastante pra saber a hora de partir, antes que as obrigações sociais começassem, e pudéssemos sentir apenas o que deveríamos sentir.

Deveria ainda existir uma imensa parede, onde pudéssemos todos rabiscar nossas opiniões, e depois, observar toda ela e perceber o quão pequenas são nossas opiniões ideológicas, se comparadas com a imensidão e a fragilidade de todas elas através do tempo.

Seria ainda ideal se existisse uma escada, alta o bastante para que pudéssemos subir até acima desse muro, e estreita o bastante para que só se pudesse estar só ao contemplar o tamanho da sombra que esse muro faz do outro lado.

Por fim, deveria existir a possibilidade sermos fortes o bastante para destruir muros, velozes e sensatos na mesma medida, abertos e inocentes e com total liberdade de dizer o que realmente sentimos, sem machucar ou magoar...

Mas se todos esses nunca existirem, ainda sim deveria haver um lugar secreto, a gente pudesse ser o melhor que podemos ser...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

“A mentira nossa de cada dia.”



Hoje fui a uma livraria, uma dessas modernas onde só de olhar as capas já nos sentimos impelidos a comprar, organizada começando pelos mais vendidos e terminando em algo como livros técnicos ou algo assim, que sempre ficam no fundo, empoeirados. No fim das contas, me vi cercado de pessoas olhando essas novas capas, com olhar critico de intelectuais, mas com os olhos de criança olhando a loja de doces, brilhantes capas, mas sem sequer desdobrar as orelhas e ver do que se tratava... As livrarias modernas, não que eu saiba como eram as antigas, fazem seu papel perfeito de dar-nos a impressão de que somos intelectuais, cultos e até mesmo leitores, imagine só!

Não que eu seja um grande leitor, mas confesso que acho mais interessante esperar o dentista me chamar folheando o jornal da semana passada do que olhar uma dessas revistas de figurinhas para adultos, que tem figuras de gentes famosas da TV, suas casas, seus cachorros, papagaios e suas mentiras. Se ao menos tivessem algum texto.... Daí, fico a pensar que as livrarias fazem parte do cenário em que vivemos nossas mentiras diplomáticas do dia a dia.

Um dia eu imagino a cena de ver um de meus colegas de faculdade admitir que ler é um saco às vezes e muito melhor é ver a novela (das 10, ou das oito, não sei ao certo) que é um livro falado, a final de contas, o próprio nome já diz: Páginas da Vida.... Ler é bonitinho, e faz parte dizer que lemos de vez em quando, mesmo que não tenhamos mais que o guia da TV como prova...

O que lemos deveria ser segredo, e se alguém descobrisse que lemos livros por prazer, mesmo sem capas legais, deveríamos ser julgados por estarmos contra a ordem e a moral social... Afinal, dizer que lemos é socialmente necessário, já ler de verdade é um absurdo, algo deveras inútil, além de nos deixar desinformados sobre o último capítulo do best-seller nacional que recebemos de graça pela TV.

Impressionante como consegui viver bons minutos de uma mentira tão real que quase acreditei. Eu até compraria um livro, mas ao olhar minha carteira e lembrar que só tinha o suficiente pra garantir meu almoço no bandejão, resolvi deixar pra lá minha revolução pessoal, afinal, teoricamente, estudar numa faculdade pública e não pagar mensalidade deveria ser fator de ter a grana da mensalidade, mas a lógica é diferente, e a verdade é que quem gasta mais acaba com mais dinheiro no final do mês para poder comprar os livros...

Como no caixa não aceitavam teorias malucas sobre eu realmente ler, só dinheiro eletrônico, pois o dinheiro real é mesmo uma mentira, não existe mesmo, resolvi ir embora... Saí desiludido e fui até o meu carro, que na verdade não é meu, nem dos meus pais, mas sim do banco, onde guardam o dinheiro que não existe...
Incrível mesmo essas coisas da vida, o vigia não assalariado do estacionamento público não estava por perto. Pensei comigo, seria fácil roubar um carro assim, o vigia some.... mas quando eu tentei sair sem ser notado, ele me olhou de longe me chamou:
- Olha ai patrão, vigiadinho.
- Puxa cara, só tenho a grana do almoço de amanha...
- Qualquer ajuda ta bom.
- Fica pra próxima, não tenho grana nem pra comprar um livro...
- Ta tudo bom, vai com Deus.... E o diabo que te carregue sussurrou...
E lá fui eu, com cara de mentiroso. Nem vou te falar que eu dou dinheiro pra essas pessoas, porque ninguém vai acreditar mesmo. Fui pra casa com meu carro desvigiado, sendo observado por meu suposto empregado que insiste em me chamar de patrão, e de filho da p. quando eu viro as costas, indo com Deus, mas com o Diabo me carregando como ele queria...

Daí cheguei a casa e falei pra minha mãe que ia ler um liv... ou melhor, assistir TV, afinal, chega de mentiras por hoje.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Antes que eu me esqueça...


“O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.”

Talvez seja apenas mais um de meus devaneios, mas algumas coisas precisam ser ditas, antes que explodam dentro de mim. Vejo nossas vidas (sim, a sua e principalmente a minha) envoltas em tanta banalidade que acabo por sufocar em meio à tamanha falta de capacidade humana de reagir à própria natureza. Nas ruas, as ideologias das gerações de nossos pais andam mendigando quem as compre, e por mais maltrapilhas que sejam ainda nos olham com um desprezo de quase deboche, como quem repete um mantra. Os jovens, nós, a geração de 80 somos a geração perdida, simplesmente porque não usamos cabelos black power, nem lutamos contra a ditadura, nem escutamos Rock N’ Roll, nem falamos palavrões apenas para mostrar nossa capacidade, e, sobretudo porque não temos o remorso que eles tinham ao perceber que: “Apesar de terem feito tudo, tudo o que fizeram, ainda são os mesmos e vivem como nossos avós”.

Talvez seja mais fácil ler uma dessas revistas japonesas em quadrinhos que ler revistas de gente grande, que cheiram a sangue e tentam nos convencer a tomar essa vitamina indigesta de criticas covardes ao governo, pois nem eles nem nós nem ninguém faz nada para mudar, adoçada com a propaganda daquilo que possivelmente não precisamos nem podemos ter, mas que vamos acabar comprando um dia. Responda-me então, contra o que deveríamos lutar? Contra o bombardeio diário de sangue e lágrimas, se só o que nos permitem sentir é o gosto salgado do suor que escorre de nossa fronte, quando nos curvamos envergonhados e curiosos para ter uma vista melhor de algo que aconteceu do lado de fora do ônibus lotado, numa caçada, onde os moleques filhos de nossa sociedade nascem e morrem sem serem notados como gente, a não ser quando roubam, para que possamos julgá-los e projetar toda nossa covardia, ou quando morrem, para que possamos lembrar-nos de quão doce nosso suor é. De fato, esse é o reality show que tentam apagar de nossas memórias, com os Big Brothers, as novelas e propagandas. A alma do negócio é quem cega nossa alma e emudece-nos o pensar.

O que nos falta talvez seja a capacidade de entender que a indiferença é o contrário do amor e do ódio, sem, contudo, ser um meio termo entre eles. Não vou repetir erros de um passado longínquo, nem mesmo conclamar minha geração a uma revolução, a não ser uma revolução pessoal, intima e consciente. Uma possível não-revolução, sem, contudo ser reacionária... E por mais que um dia em minha velhice eu me conforme em ser um cidadão modelo, lendo jornal, sendo intelectual e pensador político, pretendo enquanto me restarem forças lutar comigo mesmo contra todas as revoluções que não venham de dentro, a contra-revolução, no sentido inverso da palavra. Para que um dia eu também, finalmente, entenda o sentido dessa frase.

A hora da onça beber água...


Eu relutei, juro! Mas “sigo o destino que me é imposto” e que venha o que vier...

Maldita onça!

Sinto informar que: Tá tudo mal.