terça-feira, 28 de outubro de 2008

Antes que eu me esqueça...


“O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.”

Talvez seja apenas mais um de meus devaneios, mas algumas coisas precisam ser ditas, antes que explodam dentro de mim. Vejo nossas vidas (sim, a sua e principalmente a minha) envoltas em tanta banalidade que acabo por sufocar em meio à tamanha falta de capacidade humana de reagir à própria natureza. Nas ruas, as ideologias das gerações de nossos pais andam mendigando quem as compre, e por mais maltrapilhas que sejam ainda nos olham com um desprezo de quase deboche, como quem repete um mantra. Os jovens, nós, a geração de 80 somos a geração perdida, simplesmente porque não usamos cabelos black power, nem lutamos contra a ditadura, nem escutamos Rock N’ Roll, nem falamos palavrões apenas para mostrar nossa capacidade, e, sobretudo porque não temos o remorso que eles tinham ao perceber que: “Apesar de terem feito tudo, tudo o que fizeram, ainda são os mesmos e vivem como nossos avós”.

Talvez seja mais fácil ler uma dessas revistas japonesas em quadrinhos que ler revistas de gente grande, que cheiram a sangue e tentam nos convencer a tomar essa vitamina indigesta de criticas covardes ao governo, pois nem eles nem nós nem ninguém faz nada para mudar, adoçada com a propaganda daquilo que possivelmente não precisamos nem podemos ter, mas que vamos acabar comprando um dia. Responda-me então, contra o que deveríamos lutar? Contra o bombardeio diário de sangue e lágrimas, se só o que nos permitem sentir é o gosto salgado do suor que escorre de nossa fronte, quando nos curvamos envergonhados e curiosos para ter uma vista melhor de algo que aconteceu do lado de fora do ônibus lotado, numa caçada, onde os moleques filhos de nossa sociedade nascem e morrem sem serem notados como gente, a não ser quando roubam, para que possamos julgá-los e projetar toda nossa covardia, ou quando morrem, para que possamos lembrar-nos de quão doce nosso suor é. De fato, esse é o reality show que tentam apagar de nossas memórias, com os Big Brothers, as novelas e propagandas. A alma do negócio é quem cega nossa alma e emudece-nos o pensar.

O que nos falta talvez seja a capacidade de entender que a indiferença é o contrário do amor e do ódio, sem, contudo, ser um meio termo entre eles. Não vou repetir erros de um passado longínquo, nem mesmo conclamar minha geração a uma revolução, a não ser uma revolução pessoal, intima e consciente. Uma possível não-revolução, sem, contudo ser reacionária... E por mais que um dia em minha velhice eu me conforme em ser um cidadão modelo, lendo jornal, sendo intelectual e pensador político, pretendo enquanto me restarem forças lutar comigo mesmo contra todas as revoluções que não venham de dentro, a contra-revolução, no sentido inverso da palavra. Para que um dia eu também, finalmente, entenda o sentido dessa frase.

Um comentário:

Anônimo disse...

Depois de ler umas três vezes, fiquei uma meia hora me perguntando porque esse post não foi comentado. Talvez ninguém tenha lido essa porra, até porque, dirão, não passa de mais meia dúzia de palavras rebeldes vomitadas por um burguês pseudo-humanista que resolveu mudar o mundo. Ah, quantas vezes me disseram isso, cara! Mas essa dor, essa agonia, essa tristeza... Quem paga a conta desse sofrer calado, inquieto e canceroso?! Louvado seja Deus pela rebeldia! Além de luz e um maço de cigarros, ela é tudo que eu preciso!