quarta-feira, 29 de outubro de 2008
“A mentira nossa de cada dia.”
Hoje fui a uma livraria, uma dessas modernas onde só de olhar as capas já nos sentimos impelidos a comprar, organizada começando pelos mais vendidos e terminando em algo como livros técnicos ou algo assim, que sempre ficam no fundo, empoeirados. No fim das contas, me vi cercado de pessoas olhando essas novas capas, com olhar critico de intelectuais, mas com os olhos de criança olhando a loja de doces, brilhantes capas, mas sem sequer desdobrar as orelhas e ver do que se tratava... As livrarias modernas, não que eu saiba como eram as antigas, fazem seu papel perfeito de dar-nos a impressão de que somos intelectuais, cultos e até mesmo leitores, imagine só!
Não que eu seja um grande leitor, mas confesso que acho mais interessante esperar o dentista me chamar folheando o jornal da semana passada do que olhar uma dessas revistas de figurinhas para adultos, que tem figuras de gentes famosas da TV, suas casas, seus cachorros, papagaios e suas mentiras. Se ao menos tivessem algum texto.... Daí, fico a pensar que as livrarias fazem parte do cenário em que vivemos nossas mentiras diplomáticas do dia a dia.
Um dia eu imagino a cena de ver um de meus colegas de faculdade admitir que ler é um saco às vezes e muito melhor é ver a novela (das 10, ou das oito, não sei ao certo) que é um livro falado, a final de contas, o próprio nome já diz: Páginas da Vida.... Ler é bonitinho, e faz parte dizer que lemos de vez em quando, mesmo que não tenhamos mais que o guia da TV como prova...
O que lemos deveria ser segredo, e se alguém descobrisse que lemos livros por prazer, mesmo sem capas legais, deveríamos ser julgados por estarmos contra a ordem e a moral social... Afinal, dizer que lemos é socialmente necessário, já ler de verdade é um absurdo, algo deveras inútil, além de nos deixar desinformados sobre o último capítulo do best-seller nacional que recebemos de graça pela TV.
Impressionante como consegui viver bons minutos de uma mentira tão real que quase acreditei. Eu até compraria um livro, mas ao olhar minha carteira e lembrar que só tinha o suficiente pra garantir meu almoço no bandejão, resolvi deixar pra lá minha revolução pessoal, afinal, teoricamente, estudar numa faculdade pública e não pagar mensalidade deveria ser fator de ter a grana da mensalidade, mas a lógica é diferente, e a verdade é que quem gasta mais acaba com mais dinheiro no final do mês para poder comprar os livros...
Como no caixa não aceitavam teorias malucas sobre eu realmente ler, só dinheiro eletrônico, pois o dinheiro real é mesmo uma mentira, não existe mesmo, resolvi ir embora... Saí desiludido e fui até o meu carro, que na verdade não é meu, nem dos meus pais, mas sim do banco, onde guardam o dinheiro que não existe...
Incrível mesmo essas coisas da vida, o vigia não assalariado do estacionamento público não estava por perto. Pensei comigo, seria fácil roubar um carro assim, o vigia some.... mas quando eu tentei sair sem ser notado, ele me olhou de longe me chamou:
- Olha ai patrão, vigiadinho.
- Puxa cara, só tenho a grana do almoço de amanha...
- Qualquer ajuda ta bom.
- Fica pra próxima, não tenho grana nem pra comprar um livro...
- Ta tudo bom, vai com Deus.... E o diabo que te carregue sussurrou...
E lá fui eu, com cara de mentiroso. Nem vou te falar que eu dou dinheiro pra essas pessoas, porque ninguém vai acreditar mesmo. Fui pra casa com meu carro desvigiado, sendo observado por meu suposto empregado que insiste em me chamar de patrão, e de filho da p. quando eu viro as costas, indo com Deus, mas com o Diabo me carregando como ele queria...
Daí cheguei a casa e falei pra minha mãe que ia ler um liv... ou melhor, assistir TV, afinal, chega de mentiras por hoje.
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3 comentários:
Vc pode fazer como eu, pego livros emprestados e gasto o dinheiro dos livros todo em balinha! =D
mentirinha!
=*
esse texto já frequentou seu perfil no orkut?
parece que me lembro dele...
e continua ótimo.
(biel! eu tive que escrever "pulable" pra poder postar meu comentariozinho! =P)
mais um... vc sabe q eu penso o q eu penso, nem preciso comentar!
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